Toda campanha é um aprendizado não só pelos erros, inevitáveis, que são cometidos ao longo do processo, mas também nos acertos. Contudo, é necessário um certo distanciamento de tempo após o fim de um pleito para mergulharmos pra valer nas campanhas que gerenciamos e identificarmos o que deu certo e, principalmente, onde houve falhas e o que pode ser feito para que isso não se repita mais.
No balanço das eleições municipais de 2020, atípicas devido ao contexto da pandemia, selecionamos quatro problemas que se mostraram cruciais e provavelmente contribuíram para o resultado negativo de algumas candidaturas. Lembrando sempre que ninguém perde uma eleição devido a um único fator isolado. Normalmente há uma combinação de variáveis, mas nos tópicos abaixo, vamos listar apenas os pontos relacionados diretamente com estratégia e o trabalho de uma agência em si:
1 Pessoas sem experiência em postos de coordenação
É fato que quando você monta um time de campanha, seus amigos mais próximos ou familiares acabam desempenhando papéis-chave em todo o processo, contudo, mesmo sem recursos, você deve se preocupar em ter alguém com mínima experiência em campanha eleitoral para gerenciar ou coordenar a sua campanha. Se isso não for possível, converse com a agência de marketing para que encontrem um denominador comum, mas jamais entreguem a coordenação da sua campanha para alguém que nunca atuou em uma campanha política.
Coordenação de campanha requer interlocução com líderes comunitários, lideranças ou influenciadores, empresários ou qualquer pessoa que possa trazer apoio e abrir portas para um candidato. Estar à frente de uma campanha é sinônimo de intermediar contatos e gerenciar os demais setores envolvidos. Coordenador não é um animador de torcida, tampouco alguém que traz frases motivacionais em grupos de WhatsApp.
Em nosso trabalho, esbarramos em coordenadores sem a menor noção real do que é uma campanha política e que não só interferiram como atrapalharam toda a construção de uma estratégia. Lembre-se: campanha política é algo sério demais para você entregar para o clube dos amigos. Há espaço para todos, mas há cargos que exigem experiência, entendimento e noção de política.
2 Falta de foco na definição de pauta e bases
Não é possível um candidato a vereador fazer campanha na cidade inteira, exceto se você mora em pequenos municípios com menos de 10 mil eleitores. Dito isso, é preciso ter uma pauta bem definida e construir uma base. A pauta nasce daquilo que você pretende defender, e que pesquisas prévias apontaram como uma real necessidade do seu público. Definida uma pauta, não é possível mudarmos ao sabor do vento, principalmente com a campanha já na rua. Em 2020 tivemos candidatos alterando ou acrescentando pautas a menos de uma semana do começo da eleição, depois de toda uma pré-campanha já realizada.
Em segundo lugar, a construção de uma base é fundamental. E a base nasce no seu bairro ou região. É ali que estão as lideranças e os primeiros contatos que vão dar a largada para sua candidatura. Esse é um trabalho que o coordenador de campanha pode e deve te ajudar e gerenciar por conta própria também. Sem uma base de sustentação (bairro, região, grupo social, etc.) uma campanha dificilmente consegue decolar.
3 Ausência de planejamento
Não se constrói uma candidatura da noite para o dia. Planejamento é fundamental! Ainda mais agora que temos a pré-campanha que permite a consolidação de uma imagem com meses ou anos de antecedência. Agências ou profissionais especializados em marketing político estão aí justamente para ajudar nesse processo. Mesmo assim, encontramos candidaturas que rompem com esse item tão básico.
O planejamento de uma campanha não é algo engessado. Pelo contrário, ele pode ser mudado a partir de necessidades que surgem no caminho. Mas ele precisa existir e ser respeitado. Não adianta você mudar o rumo de sua estratégia ou campanha a cada opinião que escuta de um amigo, vizinho ou primo. E acredite, centenas de candidatos preferem escutar o sobrinho do filho do vizinho ao profissional formado. Assim se começa a rasgar um planejamento e passar a fazer ações aleatórias, sem objetivos definidos.
4 Desprezo ao potencial do WhatsApp
Desde o começo sempre ressaltamos que o WhatsApp ia desempenhar um papel de suma importância nas eleições 2020. Explicamos, orientamos, treinamos, mas candidaturas simplesmente não quiseram “perder tempo” com ele ou decidiram fazer do seu próprio jeito. O resultado foi que todo o potencial de conversão de votos da ferramenta foi totalmente desprezado.
Existe toda uma técnica de organização para alimentar uma rede de contatos no WhatsApp e fazer com que ela atue para propagar em defesa da sua candidatura. Por outro lado, é possível levantar bancos de dados de contatos e segmentá-los oferecendo a cada público exatamente o tipo de assunto ou tema que lhes interessa. Isso não aconteceu e certamente foi um grande prejuízo para candidaturas.
Nossa posição é que a partir de agora, não vamos abrir mão de nós mesmos gerenciamos os WhatsApp de cada campanha que fizermos. Assim podemos garantir o bom uso de uma ferramenta essencial para o sucesso de uma candidatura.
Por fim, no balanço geral, fica aquela certeza de que nunca é demais realizar reuniões e esclarecer o máximo possível da estratégia, dos acertos e combinados.